[Embankment#5]


“Todos os aparelhos de suprimir ausências são, pois, meios de alcance (…).
Seja como for, não é impossível que toda a ausência seja, em última análise, espacial...
Numa ou noutra parte hão-de estar, sem dúvida, a imagem, o contacto, a voz, dos que já não vivem (
nada se perde...).
Fica assim insinuada a esperança que investigo e pela qual hei-de ir à cave do museu, para olhar as máquinas."

Adolfo Bioy Casares, in
A Invenção de Morel


1: O espaço da Telethèque do Instituto Franco-Português é subtilmente anunciado em placas metálicas que indicam um lugar soterrado. Sobre o desenho da sua planta foi sobreposto um outro. E mais. Sobre o dispositivo e sua operância foi sobreposto um outro. Este outro contexto é uma espécie de matriz ressonante que permitiu a modelação de acontecimentos víricos. 




Playback é o ingrediente fundamental.”
Quaisquer gravações retransmitidas no local próprio (...) podem produzir efeito.”
“Retransmitir gravações de um acidente pode provocar outro acidente.”

William Burroughs, in
A Revolução Electrónica


2: O espaço é dividido em dois. De um lado a régie como centro encriptado, potência de abrigo onde se colocaram tótemes. Do outro a telethéque. A régie como lugar isolante e sítio de composição é interdita e apenas acessível do exterior. A disposição desta segunda sala, segundo estúdio e segundo auditório, foi interferida. A plateia é rigorosamente acertada (regulamentada) por outro ecrã constituído pela janela de acesso à “cripta”, pelo monitor enviesado e pela reverberação da cápsula intemporal que trabalha continuamente a condensação do simbólico. São as máquinas a funcionar. O ecrã é ultrapassado enquanto suporte visual, é tudo aquilo que se impõe e angustia (mortifica). Como modo de acesso é o que simultaneamente escapa à cripta e à cápsula interdita.


A: Centro. Cripta.
B: Ecrã. Acesso. Ampliação.
C: Dispositivo. Entrecortar. Retransmissão.

3: A vitrine (B-C1) guarda ecos, assim como pretende ser gabinete de curiosidades de outras plantas e dispositivos. Como objecto de entrada participa na constituição do B e relaciona-se esquematicamente com o A produzindo um outro C: 
- como B se visto da plateia, vitrine como objecto.
- como C visto logo na entrada, enquanto rectângulo que ecoa o Ecrã e o Acesso.



Eco
(Modelo de Tabernáculo)

Esta arquitectura corresponde a um espaço físico de uma grande tenda, onde todas as medidas e rácios, móveis e utensílios, cores e tecidos obedecem a um modelo exacto em que a mais pequena alteração implica a anulação da vocação desse espaço receber o simbólico.



a - Tenda de acesso interdito. Cripta.
Lugar inacessível por albergar o invisível, ocultado por um véu de grande espessura.

b – Tenda. Ampliação da Cripta.
Contém a cripta, sendo um espaço penetrável e habitável. Obedecendo a ritmos, é um lugar ritualizado com uma disposição exacta de objectos formais e de arquivo simbólico.

c – Pátio. Dispositivo.
Zona comum que encerra a e b, contudo resguarda as mesmas de um acesso imediato.


por, [Embankment], 2009. Texto que acompanha a exposição no IFP